Lançamento: Tia Ana Pankararu – guardiã indígena de saberes da Caatinga

Estou lançando meu primeiro livro. Em formato digital, singelo, mas ainda assim, meu primeiro livro. Uma vez escutei Nêgo Bispo dizer que a terra precisa de poesia. Eu, por minha vez, tenho uma conexão com as palavras que vem lá da adolescência, quando eu, cladestinamente, vendia redação na escola e, por isso, pratiquei bastante a escrita. Mas eram textos para o vestibular, não necessariamente poesia.

Desde então a escrita atravessa meu caminho me lembrando que eu tenho algum compromisso com a palavra. Eu não fujo. Quando ela me chama, eu vou. Dessa vez, fui eu quem fui atrás dela. Nessa ânsia artística de buscar me expressar em múltiplas linguagens, escrevi um projeto de escrita. Não só! Também quis contemplar e explorar meu olhar fotográfico. Eis que eu inventei um projeto de fotopoesia que estivesse firmado no meu compromisso maior: ser e salvaguardar o Ofício, Saberes e Práticas das Parteiras Tradicionais (que eu insisto em dizer: Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil reconhecido pelo IPHAN e da Humanidade reconhecido pela UNESCO). E daí que nasce o projeto: Tia Ana Pankararu – guardiã indígena de saberes da Caatinga.

Nós, parteiras tradicionais, vivemos as nossas próprias narrativas. E é urgente que coloquemos a nossa voz no mundo para que não sejamos sucumbidas pela mão do colonialismo, que insiste em nos dizimar e corromper a cultura ancestral de partejar.

Eu, ainda jovem parteira, saí da minha terra natal e fui correr mundo para me conectar com outras parteiras. Parti do Paraná e em Pernambuco encontrei um chão que me acolheu quase como filha. Fui caminhando aos pouquinhos até que cheguei no Território Indígena Pankararu. Ali vivi e me conectei, dentro e fora de mim, com uma realidade que eu não imagina viver nessa vida. Dos seres que fazem parte dessa história, Tia Ana é figura de destaque.

Eu conheci Tia Ana anos antes de chegar ao território. Foi ela uma das parteiras que me abriu as portas para que um dia eu chegasse em sua aldeia. São 3 anos desde que pisei no território pela primeira vez. Muitas aventuras e histórias para contar. Dessa vez, eu escolhi compartilhar um singelo olhar para vida e história de Tia Ana, valorizando sua trajetória e importância.

Guardiã de saberes da Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, Tia Ana é detentora do saber de plantas e ervas que não são encontrados em nenhum outro canto da Mãe Terra. São conhecimentos da sabedoria ancestral, repassados de geração em geração, que garantiram e garantem a cura de inúmeros males do corpo-espírito. Tia Ana é um patrimônio vivo da ciência indígena.

Este trabalho é fruto de um encontro intergeracional entre parteiras e tem o propósito de dar visibilidade e gerar memória em torno de Tia Ana Pankararu, destacando o seu papel social como parteira e erveira e honrando a tradição indígena que existe e resiste no sertão nordestino. Nós, parteiras tradicionais, estamos vivas e (repito) criamos as nossas próprias narrativas.

Te convido a acessar o e-book, se conectar e contemplar a poesia que nasce de quem cuida da vida. Acesse aqui o arquivo: https://drive.google.com/file/d/1q7cs07G6UvfRjjyiUoLPn_gjug5BvRWA/view?usp=sharing

Agradeço a ancestralidade e a força encantada por me acompanhar nesse caminho e me ajudar a fazer brotar esse trabalho. Agradeço imensamente Tia Ana e família, pela confiança e entrega em mais um projeto. E, especialmente, agradeço a equipe que topou criar comigo: Fykyá Pankararu, Drica Possan, Kamylla dos Santos e Layse Moraes.

Viva as parteiras tradicionais! Viva os povos indígenas! Viva o povo Pankararu!

Projeto realizado com apoio da Prefeitura Municipal de Tacaratu/PE e com incentivo da Lei Nacional Aldir Blanc – PNAB 2024-2025.

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